ESCRITORES

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A filosofia Rap de Emicida

“A atmosfera do nosso país faz com que a liberdade seja uma parada amaldiçoada quando um preto é livre”. Emicida

Leandro Roque de Oliveira, conhecido artisticamente como Emicida, escolhido pro melhor time do rap, em suas músicas, fala do que vê, do que vive e do que sente. Mas o ponto importante aqui é ver como essa característica diz muito sobre o lugar onde ele está hoje. Emicida transforma sua história na história de todos. Não é por acaso que seu som foi além do seu bairro, da sua cidade, do seu país, do seu continente.
Quando ele fala em pôr o sonho na mochila e sair vendendo disco a 2 reais, todo mundo se sente mais confiante em se colocar como quer no mundão. Quando mostra sua firmeza pra encarar o racismo, o recado vai além: ninguém vai derrubar o certo. E esses são só dois exemplos.
Particular e universal nas letras, ele avançou também no som. Colocou o rap nacional para dialogar com a música brasileira. Não como acessório, não como importação, mas como parte dela. No samba de breque, nos repentistas nordestinos, a música falada está no DNA. Seu show hoje não cai pro rock, não cai pro samba, cai num jeitão novo que ele encontrou.
Ao mesmo tempo, ele colocou o rap pra voltar a dialogar com a televisão, com os jornais e com novos palcos. Ele pode até não ser o responsável direto pelo sucesso de muitos nomes da mais nova geração do rap nacional, mas ajudou a derrubar muitos muros que esses artistas novos já não precisam enfrentar. 
Já notou que o Emicida não foi apresentado por ninguém? Seu primeiro recado veio em “Triunfo”, onde apostou toda as suas fichas. Foi o som certo, na hora certa. Ele se impôs e foi ouvido, muito por conta de um diferencial importante.
Afinal, ele entendeu cedo que nem só de cabeça sólida é preciso pra ir tão longe. Sem organização, muito trabalho bem feito pode ir em vão. Só olhar o que a velha indústria fez com mestres da nossa música, muitos que não recebem mais pelo seu trabalho. É nesse ponto que é preciso entender a força da Laboratório Fantasma. A firma dele com o irmão, formada com amigos, faz história por iniciar uma nova conversa na música brasileira. As gravadoras faliram. O mercado fonográfico, sempre meio capenga por aqui, precisa ser repensado.
Que a revolução seja feitos pelos artistas – e ela já está em curso e funciona há tempos. As horas de estudos, reuniões chatas e muita papelada compensaram. Não é por acaso que vários medalhões da nossa música ligam pra eles agora.
E nesse resumo rápido estão mais de dez anos de carreira, oito anos da primeira mixtape. Tudo que parecia impossível hoje é História.
Ver o passado ficando cada vez menor no retrovisor é uma imagem assustadora, sim, mas só para quem ficou parado no tempo. E pior, no mundo da música, é ainda mais fácil criar lodo. Já ouviu a história de que ninguém gosta de piada repetida, mas ama ouvir a música que adora repetidas vezes?
Emicida tem o mérito de com uma carreira extensa e uma coleção de hits poder levar para palcos de grandes festivais um repertório quase todo novo em folha. Seu disco mais recente, é tocado na íntegra. Quem mais faz isso hoje? São poucos. Se pensarmos só nos artistas do mainstream, ainda menos.
Talvez esse seja o seu grande segredo. Emicida tem na cabeça que seu trabalho exige constante reescrita. Esse é seu ritmo. Seu jeito de crescer.
Por Vinicius Felix, em [http://www.emicida.com/bio]

Saiba mais sobre o rap e a filosofia da periferia, em [A FILOSOFIA DA PERIFERIA: O RAP E A SUA INFLUÊNCIA NAS COMUNIDADES MARGINALIZADAS]



Saiba mais sobre a vida e obra de Emicida, acessando:
[www.emicida.com]
[pt.wikipedia.org/wiki/Emicida]
[www.youtube.com/watch?v=Wk2TE2Yvjlk&t=290s]

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