ESCRITORES

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Uma vela para Dario - Análise profunda da miséria humana na criação literária de Dalton Trevisan

A solidão pela ausência de solidariedade é o tema central do conto Uma vela para Dario. Estar sofrendo um momento de extrema dificuldade, precisando de amparo, ajuda e, ao invés de recebê-la, ser ainda destituído de seus pertences e da própria dignidade nos faz refletir sobre o fato se devemos ou não nos preocupar com pessoas desconhecidas, ao serem encontradas nas ruas, em situação de perigo, precisando de ajuda: “A velhinha de cabeça grisalha grita que ele está morrendo. Um grupo o arrasta para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protesta o motorista: quem pagará a corrida? Concordam chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e recostado à parede – não tem os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata.” O espaço é o elemento da narrativa mais explorado neste conto. É nele que se desenvolve todo o enredo. É através dele que percebemos o quanto foi dramático o sofrimento da personagem Dario: a rua é um espaço aberto, destituído de qualquer conforto, áspero, sujo, deprimente, que expõe a pessoa a todos os olhares e comentários e também às intempéries da natureza como o vento, a chuva: “É largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobrem o rosto, sem que faça um gesto para espantá-las”. Para Dalton Trevisan, o espaço mais significativo é a cidade de Curitiba. Em grande parte de seus contos, Curitiba aparece citada através de nomes de ruas, bairros, monumentos, pontos de referência. A sua Curitiba é um local com problemas, degradado, mas que assim mesmo acolhe seus moradores. Neste conto não há referência à cidade de Curitiba, mas percebe-se que se trata de um grande centro urbano, onde as pessoas não têm muito conhecimento umas com as outras: “Ocupado o café próximo pelas pessoas que apreciam o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozam as delícias da noite”  “Registra-se a correria de uns duzentos curiosos que, a essa hora, ocupam toda a rua e as calçadas: é a polícia”.Dalton mostra o lado cruel da cidade para com os “estrangeiros”, aqueles que não pertencem à comunidade, que estão de passagem. O único movimento solidário para com ele partiu de um menino negro, provavelmente outra vítima da exclusão social: “Um menino de cor e descalço vem com uma vela que acende ao lado do cadáver". "Fecham-se uma a uma as janelas. Três horas depois, lá está Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó. E o dedo sem a aliança. O toco de vela apaga-se às primeiras gotas da chuva, que volta a cair".
Por Sônia Aparecida Bittencourt Morski, em:
[www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/476-4.pdf]



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