Publicada pela primeira vez em 1984, a série de 21 poemas chamou atenção de imediato por se instalar em uma tradição rara na poesia lírica brasileira: o misticismo amoroso. Leitora privilegiada, Hilda retrabalha os grandes místicos, retirando deles o motor de um poema sensualmente religioso e incorporando a essa temática uma forma de versificar mais livre e clara. A inspiração religiosa, por sua vez, aparece no cantar íntimo da figura divina, que, colocada na mesma posição do eu-lírico, oferece-se à prática amorosa mas mantém, às vezes de maneira angustiante, um distanciamento que torna o amor sensual, desesperado e às vezes próximo da morte.
"[...] O leitor e o estudioso da obra de Hilda Hilst sempre estão correndo o risco da cilada. Muitas vezes, diante das dificuldades inerentes ao texto hilstiano, migra-se para as entrevistas concedidas pela autora a fim de tentar entender um pouco do seu universo inventivo. E a cilada se adensa. Em entrevista concedida aos Cadernos de Literatura do Instituto Moreira Salles, em 1999, deparamo-nos com a seguinte declaração da “estrela de Aldebarã”, como a chamou Drummond: “Posso blasfemar muito, mas o meu negócio é o sagrado. É Deus mesmo, meu negócio é com Deus”. Perguntamo-nos: de que “Deus” fala Hilda Hilst? Que Presença é essa que está nos seus quase cinquenta anos de trabalho ininterrupto? O engodo aumenta quando enfrentamos seus Poemas malditos, gozosos e devotos, momento-chave de sua produção poética. O conjunto se presta declaradamente a “pensar” e dar traço a uma certa “ideia de Deus”, sendo essa “ideia” a única interlocutora da subjetividade lírica. Poemas malditos, gozosos e devotos representa também, dentro do paradigma da obra de Hilst, momento marcante dessa produção literária, pois é o momento em que os elementos do “baixo”, presentes na ficção que se delineou na década de 1970, migrou para o discurso poético, estabelecendo, por fim, o confronto entre “alto” e “baixo”, “sublime” e “grotesco”, “transcendência” e “materialismo”, tensões tão ao gosto da literatura da autora paulista. Em outras palavras, Poemas malditos, gozosos e devotos promove uma abertura expressiva para os conjuntos posteriores, e as questões que aí se delinearam só obterão contornos (e respostas, se as houver) definitivos na produção poética das décadas de 1980 e 1990".
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"[...] O leitor e o estudioso da obra de Hilda Hilst sempre estão correndo o risco da cilada. Muitas vezes, diante das dificuldades inerentes ao texto hilstiano, migra-se para as entrevistas concedidas pela autora a fim de tentar entender um pouco do seu universo inventivo. E a cilada se adensa. Em entrevista concedida aos Cadernos de Literatura do Instituto Moreira Salles, em 1999, deparamo-nos com a seguinte declaração da “estrela de Aldebarã”, como a chamou Drummond: “Posso blasfemar muito, mas o meu negócio é o sagrado. É Deus mesmo, meu negócio é com Deus”. Perguntamo-nos: de que “Deus” fala Hilda Hilst? Que Presença é essa que está nos seus quase cinquenta anos de trabalho ininterrupto? O engodo aumenta quando enfrentamos seus Poemas malditos, gozosos e devotos, momento-chave de sua produção poética. O conjunto se presta declaradamente a “pensar” e dar traço a uma certa “ideia de Deus”, sendo essa “ideia” a única interlocutora da subjetividade lírica. Poemas malditos, gozosos e devotos representa também, dentro do paradigma da obra de Hilst, momento marcante dessa produção literária, pois é o momento em que os elementos do “baixo”, presentes na ficção que se delineou na década de 1970, migrou para o discurso poético, estabelecendo, por fim, o confronto entre “alto” e “baixo”, “sublime” e “grotesco”, “transcendência” e “materialismo”, tensões tão ao gosto da literatura da autora paulista. Em outras palavras, Poemas malditos, gozosos e devotos promove uma abertura expressiva para os conjuntos posteriores, e as questões que aí se delinearam só obterão contornos (e respostas, se as houver) definitivos na produção poética das décadas de 1980 e 1990".
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SAMPAIO, Higor Alberto. O mecanismo sacrificial em Poemas malditos, gozosos e devotos de Hilda Hilst. 2013. 105 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho. Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, 2013. Disponível em: [http://hdl.handle.net/11449/99133]
[repositorio.unesp.br/bitstream/sampaio_ha_me_sjrp.pdf?sequence=1&isAllowed=y]Saiba mais sobre a vida e obra de Hilda Hilst, acessando:
[www.elfikurten.com.br/2013/05/hilda-hilst.html]
Para saber mais sobre a autora, acesse [www.hildahilst.com.br]
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