ESCRITORES

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A Vitalidade da MPB em Criar Palavras


Sucesso recente de canções como "Shimbalaiê", de Maria Gadú, mostra a vitalidade da MPB em criar palavras
Odara, drão, platinela, baticum, batumaré, ilariê, ho ba la la, periba, blésq, plunct, aserejé, avohai, mironga. Algumas das inúmeras palavras criadas na música popular brasileira não possuem qualquer significado aparente e são repetidas exaustivamente pelos ouvintes, repercutem na mídia e nas redes sociais da internet. Os casos mais recentes são "Tchubirundu", do cantor de reggae Armandinho, e "Shimbalaiê", título da canção de Maria Gadú, incluída na trilha musical da novela Viver a Vida, da rede Globo. Não se trata de onomatopeias (palavras que tentam imitar os sons) ou formas reduzidas de palavras e expressões já existentes. É antes uma espécie de idioleto musical, uma ocorrência individualizada de linguagem, um neologismo sem significado necessário. Algo próximo do que Moraes Moreira, Luiz Galvão e Pepeu Gomes definiram, numa canção dos Novos Baianos, como sendo a "linguagem do alunte", título também de disco de 1974:
"Palavra nova que dispensa explicação
Pra lá, muito pra lá de alucinação
Ter quer dizer nada".
- Quando componho, os fonemas, os sons e as sílabas vêm natural e intuitivamente. Assim, crio palavras novas. É claro que existe um trabalho mental e lógico para encaixar as palavras e os conteúdos que queremos expressar. Mas as novas expressões também podem traduzir melhor um sentimento - explica Mallu Magalhães.

Criação particular
No primeiro e homônimo CD gravado por ela em 2008, há palavras como "tchubaruba", que ela garante ser uma expressão sonora que carrega sensação de alegria, tranquilidade e outros sentimentos bons.
A cantora e compositora cita como referência na criação de palavras o sambista Moreira da Silva, que, em meio à descrição de uma partida de baralho, em Jogando com o Capeta, parceria com Ribeiro Cunha, solta um "vargo" e uma "solinge".
Outras fontes de inspiração seriam as canções compostas e/ou interpretadas por Bezerra da Silva, como A Gíria É a Cultura do Povo, em que o intérprete e compositor apresenta, entre outras expressões saídas das ruas, "vagabau" e "gbo".
O pesquisador musical Rodrigo Faour acredita que articulações vocabulares como essas - de significantes não raro vazios de significados - sejam parte de uma tradição criativa comum ao ramo musical.
- Muitas combinações de notas musicais sugerem sons de palavras e isso acaba sendo um estímulo para alguns compositores, mesmo antes de criarem letras para suas canções. Aí certos improvisos podem virar partes da letra propriamente dita. Não há muito que teorizar em cima disso. É pura criatividade mesmo - aposta Faour.
Leia texto completo em matéria da [Revista Língua Portuguesa], Edição-55.




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