ESCRITORES

ESCRITORES

Súplica - Brado ressonante pela libertação e identidade do povo Moçambicano





Tirem-nos tudo,
mas deixem-nos a música!

Tirem-nos a terra em que nascemos,
onde crescemos
e onde descobrimos pela primeira vez
que o mundo é assim:
um labirinto de xadrez…

Tirem-nos a luz do sol que nos aquece,
a tua lírica de xingombela
nas noites mulatas
da selva moçambicana
(essa lua que nos semeou no coração
a poesia que encontramos na vida)
tirem-nos a palhota ̶ humilde cubata
onde vivemos e amamos,
tirem-nos a machamba que nos dá o pão,
tirem-nos o calor de lume
(que nos é quase tudo)
mas não nos tirem a música!

Podem desterrar-nos,
levar-nos
para longes terras,
vender-nos como mercadoria,
acorrentar-nos
à terra, do sol à lua e da lua ao sol,
mas seremos sempre livres
se nos deixarem a música!
Que onde estiver nossa canção
mesmo escravos, senhores seremos;
e mesmo mortos, viveremos.
E no nosso lamento escravo
estará a terra onde nascemos,
a luz do nosso sol,
a lua dos xingombelas,
o calor do lume,
a palhota onde vivemos,
a machamba que nos dá o pão!

E tudo será novamente nosso,
ainda que cadeias nos pés
e azorrague no dorso…
E o nosso queixume
será uma libertação
derramada em nosso canto!

̶ Por isso pedimos,
de joelhos pedimos:
Tirem-nos tudo…
mas não nos tirem a vida,
não nos levem a música!

Súplica a quem? Uma análise do poema escrito por Noémia de Sousa

O poema Súplica de Noémia de Sousa, magnífica escritora moçambicana, é considerado um dos melhores e mais influentes poemas de Moçambique. Escrito durante o regime fascista do primeiro ministro português António Salazar, período muito difícil para os moçambicanos não assimilados, ou seja, os que não faziam parte do governo colonial. Noémia de Sousa escreveu esse poema enquanto vivia em Lisboa, presumivelmente no ano 1951. O poema aborda a opressão do povo moçambicano, das dificuldades que enfrentavam cada dia e as dores que sofriam como resultado de colonialismo e a escravidão. Porém não tem o tom de queixar-se nem de reclamação, de fato o tom deste poema é muito mais resiliente e é como o título sugere uma súplica feita não para os portugueses, e sim, ao povo moçambicano.

Leia o texto para entender o poema completo, acessando:

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