ESCRITORES

ESCRITORES

A Literatura Filosófico-Hedonista de Michel Onfray

"O tédio caiu sobre nosso século, e com ele o desejo de acabar com os contendores da vida. A moral serve há muito tempo para conferir todo o poder à morte, desde a própria eclosão das personalidades. Ela persegue com seus raios a carne e os corpos, os espíritos e os entusiasmos para erradicar da matéria as energias que revelam a vida."

Michel Onfray em "A arte de ter prazer"  apoiando-se sobretudo nos princípios da razão e do hedonismo, mostra por que apesar de ser um dos filósofos mais polêmicos, é também, o mais lido da atualidade na França:  por seu materialismo hedonista, por sua postura contrária à religião e a ideia de Deus, as instituições de ensino e a formatação de alunos para que sirvam ao mercado de trabalho, o casamento burguês, a monogamia e a procriação.
Herdeiro de filósofos como Epicuro e Helvétius, mas também dos iluministas franceses, de Nietzsche e de Freud, Onfray acredita que devemos buscar constantemente o prazer, a liberdade e a independência, desde que, para isso, não façamos mal ao outro. A busca por essa trajetória individual, na medida de nossos desejos, é a base de toda sua extensa obra: escreveu cerca de trinta livros nos quais formula um projeto hedonista ético traduzidos em mais de 20 línguas com temas tão variados como religião (Tratado de ateologia), política (A política do rebelde), erotismo (Teoria do corpo amoroso), história da filosofia (Contra-história da filosofia), ética (A escultura em si) e até mesmo gastronomia (O ventre dos filósofos, A razão gulosa) e viagens (Teoria da viagem).  
Para Onfray, desejar o prazer é o que define o ser humano, do ventre materno ao último suspiro. Não há idade para ser hedonista, ou para não deixar de sê-lo. Os prazeres são diversos e múltiplos. Existem prazeres relacionados à idade, é claro: a enologia não diz respeito às crianças de cinco anos, nem a gastronomia, e a velhice tem suas próprias alegrias. Mas, de qualquer maneira, é preciso responder ao prazer não pela recusa, mas por sua realização, qualquer que seja a idade.
Apesar de não ter o reconhecimento de seus pares e viver à margem do circuito de maior prestígio acadêmico, Onfray parece não se importar com isso. Acolhido pela imprensa e pelo mercado editorial, dedica-se ao que chama de "contra-história da filosofia" numa universidade popular que ele próprio criou: a Universidade Popular de Caen criada em 2002, após demitir-se do sistema de ensino francês alegando os fatores que o incomodavam no ensino tradicional: a burocracia, o adestramento no lugar da educação, a disciplina no lugar da instrução, a formatação intelectual e ideológica de clones destinados a servir ao mercado, o conteúdo pobre, o corpo docente triste, apagado, desmobilizado, o desprezo dos alunos, a “militarização” dos estabelecimentos, a sede de poder dos pequenos chefes, etc. A Universidade Popular de Caen é gratuita, sem obrigação de títulos, sem diplomas, sem visar o lucro, ela é livre, organizada em torno do saber existencial.
Obra magistral de Michel Onfray, "A arte de ter prazer" é uma proposição filosófica na qual o autor esboça, à sombra de Nietzsche e de pensadores libertinos, um materialismo hedonista que relaciona a constituição material da realidade física com a suposição ética de que a busca do prazer é a suprema tendência e finalidade da condição humana.
Tradução de Monica Stahel, [MARTINS FONTES EDITORA]



2 comentários:

Lívia Azzi disse...

Acredito que em "A arte de ter prazer" de Michel Onfray iremos encontrar interessantes e produtivas reflexões. Despertou minha curiosidade em lê-lo. Embora eu acredite que não podemos nos limitar a viver tudo desmedidamente, com a urgência de capturar uma essência que nunca será aspirada por completo.

Se realizássemos todos os nossos desejos e fizéssemos apenas o que nos dá prazer seria melhor excluir certos afazeres que são nossas obrigações!

Acredito que é importante encontrarmos um equilíbrio entre os afazeres que nos são atrativos e outros que detestamos, mas necessitamos realizá-los. Do mesmo modo como temos que saber conviver bem com as pessoas que não nos são tão queridas.

Vamos nos perder se permitirmos guiar nossa vida pelo niilismo, mas não acredito que o será no hedonismo que iremos nos encontrar!

O filósofo Michel Lacroix defende que a busca irrefreável por emoções fortes é no fundo um sintoma da nossa insensibilidade. "É de lirismo verdadeiro que precisamos, não de adrenalina".


Um beijo!

Luiz Neves de Castro disse...

Lívia, as duas correntes filosóficas são complementares: precisamos tanto de lirismo quanto de adrenalina e de prazer.
Onfray com seu projeto hedonista ético esboça uma sabedoria na qual o prazer irá participar tanto quanto a desilusão e o senso da morte. Para ele, ser hedonista, não é buscar qualquer prazer, mas somente aqueles que fazem bem à alma, submetendo nossos desejos à felicidade; é preparar as pessoas p/ obter o máximo de qualidade de vida, com harmonia e sabedoria. Para os hedonistas o prazer pertence à ardem do ser e não do ter. A posse de cargos privilegiados, de riquezas e a abundância de bens não garantem a felicidade e bem-aventurança. O meio de alcançá-las é a ausência de dores e sofrimentos, a moderação nos afetos e nas paixões e o espírito disposto a manter-se nos limites impostos pela natureza.
O que a filosofia de Onfray procura combater são os males culturais que impedem a conquista da experiência do prazer. Seus preceitos são duramente combatidos por segmentos religiosos e moralistas conservadores que veem em sua escola filosófica a pregação da banalização da sexualidade humana. Mas, o que na verdade o hedonismo prega, é o controle racional dos sentimentos do corpo.
Um abraço.