ESCRITORES

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A Lentidão - Milan Kundera

[...] A primeira metade é toda em tom filosófico e paródico. Nela, Kundera defende o verdadeiro hedonismo de Epicuro e a capacidade de fruir melhor cada momento, sem deixar-se cair na velocidade dos tempos atuais (“A Lentidão” é de 1995), que a tudo atropela e joga no meio-fio do esquecimento. Para isso ele se vale tanto de Madame de T, exímia praticante do prolongamento dos prazeres, como o sábio Pontevin, mestre nas pausas longas para dar maior efeito aos seus ditos espirituosos.
Na segunda metade ganham predominância as figuras patéticas de Vincent, tímido e frustrado discípulo de Pontevin; o político Berck, que lamenta não ter beijado um doente de Aids no momento em que o fotógrafo aparece; o entomologista perseguido pelo comunismo na antiga Tchecoeslováquia, e, entre outros, a jornalista histérica, apaixonada pela figura messiânico-demagógica de Berck.
Juntos, eles formam o núcleo “pornopopéia” do livro [com permissão do amigo Reinaldo Moraes pelo adjetivo]. Num momento de arroubo, por exemplo, o sem-noção Vincent resolve extrapolar e tecer loas líricas aos gritos para o cu de uma jovem estudante que acabara de conhecer. A jornalista, depois de ter seu amor recusado com veemência escatológica e mau-hálito, tenta o suicídio numa piscina rasa. O entomologista [seria menção à barata do também tcheco Kafka?], por sua vez, deixa-se afogar pela glória de ter sido perseguido e simplesmente esquece de pronunciar o discurso que todos esperavam.
Kundera é implacável na crítica sociopolítica, mas também preciso na caricatura dos anseios humanos. “A Lentidão”, como ele mesmo admite num de seus capítulos curtos e velozes, foi escrita para que “não houvesse nenhuma palavra séria”, para que fosse “Uma Grande Bobagem Para Seu Prazer”. Esse “Seu” é dele, Kundera, mas também é do leitor, que dá boas risadas e ainda fica com o que pensar.
Leia a resenha completa, por Daniel Benevides,  em: [A Lentidão - UOL Entretenimento]
Para ler um trecho, acesse: [Leia trecho de "A Lentidão", de Milan Kundera]

Um comentário:

Tania regina Contreiras disse...

Kundera é o máximo! Quero ler A Lentidão.
Beijos,