O poema José mostra-se com uma visão pessimista do cotidiano. Seu tema central é a solidão do homem, sua falta de espaço; revela uma profunda angústia pela vida. Inicialmente, observamos que a alegria e a felicidade já existiram, mas agora, “a festa acabou”. Em seu lugar ficou a escuridão, o frio, o abandono: José está só. “E agora, José? A festa acabou” (A alegria se foi… situação de perda), “a luz apagou” (escuridão, trevas), “o povo sumiu” (solidão, abandono), “a noite esfriou” (noite e frio não só no ambiente físico, mas também na alma, na vida de José.)
As interpelações, cada vez mais repetidas, ganham maior intensidade e significação, pois reforçam a situação do homem que já não tem ambiente.
“José” é a metonímia do próprio autor e/ou de um povo, cuja situação é repetida dia a dia, pois não há destino certo: na escuridão, sem amigo e sem abrigo. O poema José é simbolo de uma época de massificação, de uma “época de objetos e não de sujeitos”. (Sant’anna).
“José” é um heterônimo do autor. É capaz de amar, de ser irônico, pois , “zomba dos outros”, faz versos, mas que ironia: é desconhecido; vive no anonimato; “José” não tem sobrenome, não se sabe de onde veio nem para onde vai. “Você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta?” Apesar do anonimato José não é um alienado; ele ama, é irônico, escreve e protesta. Ele não é indiferente aos acontecimentos sociais. Seu anonimato e solidão não são opcionais foram-lhe impostos. Não foi José quem acabou com a festa, apagou a luz, ele não escolheu o anonimato, uma vez que faz versos e protesta, não se recolheu para amargar a solidão: foi o povo que sumiu.
“José” é carente de tudo: “está sem mulher”, “está sem carinho”. Diante do abandono, sem mulher, sem carinho, José não encontra nem palavras: “está sem discurso”. A sua situação só se agrava, ele não pode recorrer nem a um paliativo, realizando uma fuga através do cigarro e da bebida: ele não pode refugiar-se na bebida ou em qualquer vício.
É muito significativa a colocação dos verbos em face às coisas da vida. Até suas esperanças frustraram-se, pois, “o dia não veio”, a vinda de um novo dia significa novas oportunidades, mas para José ele não veio. O bonde e o riso não vieram; nem mesmo de mentiras ou de ilusões ele pode viver. O autor passa um sentimento de quem perdeu a hora certa de agir, de lutar: “tudo mofou” “acabou”, “fugiu”., não há esperança de recuperação, apenas um vazio de tudo. Tudo é rotina e monotonia. Não pôde realizar-se como pessoa humana, pois está só; ele se expressou através de seus versos e protestos mas quando percebe “tudo acabou”, tudo fugiu”, tudo mofou”. “E agora, José?” ,
Encerrando em si antíteses, José é marcado por sentimentos opostos, conflitos que não conduzem à solução. É uma pessoa apegada às coisas materiais, representadas aqui pelas palavras “gula, (alimento) lavra de ouro, (riqueza) biblioteca (conhecimento)”, mas que tem incoerências, e apresenta grande fragilidade e vulnerabilidade: representadas por seu terno de vidro.
“José” sente-se impossibilitado de agir. Tudo lhe parece inútil e desprovido de significado. “Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta;” Frente à sua frustração e desesperança, José quer morrer no mar, mas nem isso lhe é permitido porque não existe mar no qual possa morrer. Sente-se encurralado, não pode nem morrer. Quer voltar para Minas que é seu ponto de equilíbrio, “Minas não há mais”, ou seja, Minas dos seus sonhos, da sua infância mudou e José também.
Mas José deveria reagir, manifestar-se. Deveria gritar, gemer, cansar, dormir, morrer, mas não morre. José é duro na queda. Feito de ferro, talvez o mesmo ferro que nutre Itabira, terra do autor. José assume uma extrema passividade.
Totalmente acuado, “sozinho no escuro qual bicho-do-mato” a ele resta a solidão e o abandono, já que José não tem nem a fé religiosa para se refugiar “sem teogonia”. Não tem onde se apoiar “sem parede nua para se encostar” Também não tem recursos para fugir “sem cavalo preto que fuja a galope,” sem destino ele ainda assim não pára continua sua marcha sem rumo. “Você marcha José! José, para onde?
José é um poema de desencontros, marcado por um profundo ceticismo. O homem não encontra a si mesmo. Perdeu-se. Está encurralado, num verdadeiro beco sem saída. Sem qualquer direção ele prossegue: para onde, José?
O poema de Carlos Drumond de Andrade aplica-se aos milhares de “Josés” que transitam pela vida sem serem notados, ouvidos ou vistos. Aos “Josés” condenados pela sociedade à solidão e ao anonimato, que não tiveram nenhuma oportunidade de se realizar como homem. Que gritam, protestam, amam, mas têm seu grito sufocado pela indiferença, seu protesto ignorado e seu amor não correspondido, mas que continuam se arrastando pela vida sem saber onde vão chegar.
Análise do poema extraída do site: [www.poemasepensamentos.com.br]
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