[...] "A incrível e triste história da Cândida Erêndira e sua avó desalmada" do escritor colombiano e Nobel de Literatura, Gabriel García Márquez, ocupa um lugar de destaque na literatura latino-americana, além de revelar um conflito intergeracional representado pelo relacionamento parental avó/neta em nada parecido com o habitual narrado nos contos de fada. Esta novela está inserida no livro homônimo, juntamente com outros seis contos. A história de Erêndira é tão conhecida quanto a saga dos Buendía, de Cem Anos de Solidão, do já citado autor, entretanto o destaque desta narrativa confere a García Márquez o papel de um dos maiores escritores alegórico-fantásticos da literatura universal. O conceito de literatura fantástica se liga intrinsecamente a textos que fogem ao realismo estrito, tomando como referência o realismo do século XIX. O fantástico nasce daquilo que não pode ser explicado através da racionalidade e do pensamento crítico, como complexo processo de formação dos indivíduos. Há diversas nomenclaturas utilizadas quando se refere à literatura fantástica, como o realismo mágico, o maravilhoso e o alegórico. De acordo com Rodrigues, 1988, na literatura fantástica europeia, ao contrário da produzida na América Latina, há uma preocupação em preservar o real quando algo sobrenatural ocorre, mesmo que a explicação apareça apenas no desfecho da obra. Visa-se, desta maneira, não se perder a verossimilhança, nem mesmo contestá-la. Já na literatura fantástica da América Latina, não há essa preocupação. Assim, o verossímil funde-se com o inverossímil, o real com o sonho, como ocorre, no caso da obra aqui estudada. Na triste história, o escritor colombiano narra, sem eufemismos, as desventuras de uma jovem de 14 anos corrompida, escravizada e prostituída pela própria avó. A desalmada senhora responsabiliza a neta pelo incêndio que destruiu a casa em que viviam e condena a jovem a se prostituir por mais de oito anos para pagar o "prejuízo de mais de um milhão de pesos", decorrente do incêndio. A possibilidade da frágil e delicada adolescente se livrar da pena surge na figura de Ulisses - um viajante astuto e apaixonado - que representa a esperança e o sonho de liberdade para a neta explorada. A história de uma avó cruel vingativa e terrível do universo literário e, ao mesmo tempo, uma das mais populares está perpetuada na obra de Márquez que, talvez pelo caráter paradoxal tenha merecido um olhar cinematográfico e ganhou as telas do cinema, em 1983, pelas lentes do diretor Ruy Guerra. O filme coproduzido pelo México, Alemanha e Portugal, protagonizado pela brasileira Cláudia Ohana no papel de Erêndira, recebeu o prêmio de melhor fotografia pela Academia Mexicana de Artes y Ciências Cinematográficas [...]
Por Anna Giovanna Rocha Bezerra e Ediliane Lopes Leite de Figueiredo, em:
Transposição da obra para o cinema:
Eréndira (1983) from Julián Herrera Santiago on Vimeo.
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