ESCRITORES

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Deixe o quarto como está - O surrealismo poético de Amílcar Bettega


Amílcar Bettega Barbosa, nome de destaque da atual safra de ficcionistas brasileiros, contrariando a tradição realista de nossa prosa ficcional, em "Deixe o quarto como está" tomou o caminho da narrativa fantástica. Neste seu segundo livro se firma como um dos mais talentosos contistas brasileiros. A maioria dos contos de "Deixe o quarto como está" é pautada pelo insólito. A escrita elegante, a leveza e o diálogo entre poesia e prosa lembram o estilo de Murilo Rubião, outro que fez da espera e do cansaço matéria-prima da ficção. 
Recriando o fantástico com uma escrita peculiar, mesclada de lirismo e certa melancolia, aliada ao humor cáustico que percorre cada página, Amílcar deixa o leitor sempre a meio caminho entre a realidade e o sonho, apostando sobretudo nos detalhes, nas minúcias do cotidiano, sob as quais se escondem mundos inimagináveis.
A narrativa pop-surrealista de Amílcar Bettega é marcada por um grande domínio técnico e esteticamente se filia ao chamado realismo mágico, estabelecendo uma intertextualidade com o escritor argentino Julio Cortázar, em que acontecimentos inesperados tomam conta do contexto de forma "realista".
Amílcar segue caminho próprio dentro da nova literatura brasileira, construindo uma obra que se mantém ligada através de personagens à procura de um sentido para se viver num mundo cada vez mais caótico de sentidos e significados. A lógica cotidiana abre espaço para estranhos eventos, que passam a impor suas próprias regras configurando uma nova realidade. 
As situações mais absurdas são descritas com naturalidade: Um homem toma um trem para sair da cidade, mas não consegue deixar o perímetro urbano. Outro personagem acorda em seu quarto e percebe que está acompanhado de um crocodilo. Uma casa redesenha a própria arquitetura como se estivesse viva. 
Os contos "Auto-retrato", "Aprendizado" e "Para salvar Beth", se aproximam da ficção realista. "Hereditário", "O crocodilo", "O rosto", "O encontro" - adentram mundos insólitos como inquietantes fantasias kafkianas narradas com o humor sutil de um cineasta surrealista. 
Invariavelmente, o que impressiona é a habilidade de Bettega em enredar o leitor como cúmplice na construção de estranhos, oníricos e delirantes universos.

Amilcar Bettega concede entrevista ao Canal Futura e fala sobre os seus três livros de contos, incluindo o premiado 'Os Lados do Círculo', de 2004. Ele fala de suas influências e de seu método de trabalho. Fala também de seu primeiro romance, 'Barreira'.

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