ESCRITORES

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Parabólicas e Mandacarus [Obra em Progresso] Prólogo


“O homem chega, já desfaz a natureza
Tira gente põe represa, diz que tudo vai mudar [...]
Vai ter barragem no salto do Sobradinho
o povo vai-se embora com medo de se afogar,
o sertão vai virar mar, dá no coração
o medo que algum dia o mar também vire sertão”
SÁ & GUARABYRA

Prólogo

O quanto as palavras podem mudar o destino de alguém?...

"As cidades, do mesmo modo que os seres vivos que se originam de minúsculas células, nascem de diminutos vilarejos anteriores, se reproduzem, se desenvolvem, conurbam-se. Há aquelas que eventualmente morrem. Umas são de índole agreste, são violentas, cheiram mal, enlouquecem e suicidam devagarinho seus habitantes; há outras tão aprazíveis, que tudo à sua volta iluminam e suavizam, parecem avencas altivas e delicadas. Entre as últimas, desde sempre, esteve nossa terra". Estas palavras de meu avô, Justino Jatobá, transcritas da última carta que me enviou, acabaram com minha relutância e me fizeram regressar ao lugar onde nasci depois de vinte anos.

Vislumbro as primeiras imagens quando o ônibus desce a estreita escarpa da Serra das Araras Azuis e descortina no cenário, entre incontáveis cores do entardecer, aquilo que lamento contemplar pela última vez. A natureza que serve de berço à minha terra apraz aos olhos e arrebata o espírito pela intensidade da beleza: límpidas praias temporárias, lagoas, baixios, ilhas, barcos e velas na direção do rio; rochedos, montes e serras sobressaem no rumo da caatinga e se estendem na imensidão; umbuzeiros, umburanas, urumbebas e baraúnas despontam, vez por outra, quebrando a monotonia ressequida dos arbustos ralos retorcidos e cactos que se expandem até onde a vista alcança. A planície é inóspita, é resplandecente, é infinita quando se observa sobretudo a linha que a separa do céu e não se distingue mais o que é planície e o que é céu. Em meio a essa aridez, surgem, em pontos esparsos no penhasco da serra, em cores vibrantes como obra de arte viva, a revoada de araras azuis ou a flor de uma orquídea. Sobressaem ainda mais nessa geografia uma abóbada celeste, sempre mais próxima da terra do que em qualquer outro lugar, com as nuvens esculpindo esculturas efêmeras, e a água do rio lambendo cariciosa o grande lábio da margem onde a cidadezinha agoniza.

Estou regressando a Riopara, a cidade vai desaparecer; meu avô me relatou com letras melancólicas em sua última carta. Então, disse a mim: vou fazer essa viagem, mesmo contrariando a profecia daquele velho adivinho cego que, há tempos, quando lhe dei uma esmola na rua, falou: “sei quem é você, nunca mais ponha seus pés em Riopara, pois se acontecer, sua vida decairá em acontecimentos funestos e seus pés incharão ao ponto de nem poder caminhar.” Como não creio em profecias e adivinhações, vou rever pela última vez o lugar onde nasci, meus avós paternos após alguns anos e continuar à procura de minha mãe que ainda não sei quem é nem por onde anda.

Antes de chegar, sentindo a desaceleração do motor enquanto o ônibus trafega entre os contrafortes da serra, retrocedo ao prelúdio da minha vida. Ainda não conhecia a mutualidade do sexo ou de um amor maior, nem tinha feito qualquer coisa memorável. Riopara, espécie de "Macondo" da caatinga, era lugar insólito, minúsculo, libertino tornando-se aos poucos não urbana, agreste, transmudando-se no espaço-tempo em terras e plantas semiáridas. Nela vivia uma gente incomum, fluviocaatingueira; sobressaíam as antagônicas famílias Jatobá e Tapuya.


Uma jornada emocionante às margens do rio São Francisco, onde a busca por identidade e redenção se entrelaça com os mistérios do destino e do livre-arbítrio. 

3 comentários:

Unknown disse...

Luiz Neves,tb sou baiana de região distante da sua, mas morei um período em Sento Sé,(trabalho)e me apaixonei não só pela região mas tb por esse povo sertanejo de uma beleza ímpar, digitalizo minha admiração pelos seus textos. abraço

Luíz Sommerville Junior disse...

Olá, amigo poeta! Tem um presente de Natal para você no Távola de Estrelas!Desejamos a você votos dum
Natal muito Feliz e de um Ano Novo Maravilhoso!

abraços,

JouElam & Dani

Távola de Estrelas: http://jorgemanueledanieledallavecchia.blogspot.com/2011/12/um-selinho-pra-voce.html

Evanir disse...

Que a felicidade te acompanhe sempre e que ela seja
sua companheira constante no decorrer desse Ano de 2012.
Sigamos avante, para o alto e com um sorriso no rosto! Paz e luz.
E já no final dessa primeira semana de Ano Novo.
Desejo um feliz e abençoado final de semana.
Vou continuar te seguindo e te amando sempre.
Beijos no coração.
Evanir