ESCRITORES

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Parabólicas e Mandacarus [Obra em Progresso] Capítulo-1


“O homem chega, já desfaz a natureza
Tira gente põe represa, diz que tudo vai mudar [...]
Vai ter barragem no salto do Sobradinho
o povo vai-se embora com medo de se afogar,
o sertão vai virar mar, dá no coração
o medo que algum dia o mar também vire sertão”
SÁ & GUARABYRA


Chegara o dia de Riopara partir em sua viagem para imergir no fluxo universal do tempo. Partia com sua singularidade, suas crenças, histórias e reminiscências. Sua essência fluviocatingueira imergia com todos os sonhos, pesadelos e pecados cometidos. A cidade vivia as últimas horas de um apocalipse adiantado no tempo e submergia com seu casario antigo, com a força e a fúria de seus deuses, seus mortos, seus totens, anjos e demônios; Riopara sumia com sua concepção do mundo, sua ancestralidade e seu modo de menina; com suas idiossincrasias, seus imponderáveis e sua felicidade libertina.
Março, manhã, mormaço; dia típico na região são-franciscana. Luz solar intensa; lume cintilante sobre a superfície das águas. Encontrava-me em cima da parte que ainda restava da bela base maciça de alvenaria no alto do antigo cruzeiro, e com absoluta consternação, contemplava o rio São Francisco avançar sobre a cidade, numa enchente diluviana, em vaga fluvial volumosa, e submergir vastas extensões de terra, vilarejos, veredas e plantações; templos, terreiros e antigos casarões; ruas, estradas e o sepulcro das almas que me eram familiares, quando pressentir Justino Jatobá ser arremessado às águas impulsionado por balas de grosso calibre, despedir-se desse mundo e reencarnar no mesmo instante noutra forma de vida, reviver num Salminus brevidens - peixe tubarana, piraju, peixe dourado. Naquele instante em que Justino Jatobá voltava à vida para reiniciar vivência com outra aparência física, um cheiro forte de terra seca desvirginada pelas águas da cheia impregnava a atmosfera.
Agora, Riopara inexistia, era não lugar, jazia imersa sob longos céus e a vastidão de um lago antrópico; transubstanciara-se. Aves de arribação cruzavam o céu em busca de pouso e habitat noutras paragens; e por baixo d'água, uma vida inteira repousava na memória, no aroma e no remanso das águas do “Velho Chico”. Suavemente, Riopara encantou-se; e, antes que o sol desse dia decaísse, sua alma surreal sumiu  no seio do rio...

LEIA O PRIMEIRO CAPÍTULO, ACESSANDO:  [UM LUGAR CHAMADO RIOPARA 



4 comentários:

Unknown disse...

Luiz Neves,tb sou baiana de região distante da sua, mas morei um período em Sento Sé,(trabalho)e me apaixonei não só pela região mas tb por esse povo sertanejo de uma beleza ímpar, digitalizo minha admiração pelos seus textos. abraço

Luíz Sommerville Junior disse...

Olá, amigo poeta! Tem um presente de Natal para você no Távola de Estrelas!Desejamos a você votos dum
Natal muito Feliz e de um Ano Novo Maravilhoso!

abraços,

JouElam & Dani

Távola de Estrelas: http://jorgemanueledanieledallavecchia.blogspot.com/2011/12/um-selinho-pra-voce.html

Elton S. Neves disse...

Texto muito bem escrito,uma linguagem literária que mesmo tendo um tom popular não deixa no entanto de ser uma linguagem de um certo rebuscamento literário,tão próprio dos grandes escritores. Parabéns. Abraços literários.

Evanir disse...

Que a felicidade te acompanhe sempre e que ela seja
sua companheira constante no decorrer desse Ano de 2012.
Sigamos avante, para o alto e com um sorriso no rosto! Paz e luz.
E já no final dessa primeira semana de Ano Novo.
Desejo um feliz e abençoado final de semana.
Vou continuar te seguindo e te amando sempre.
Beijos no coração.
Evanir