ESCRITORES

ESCRITORES

A Arquitetura Narrativa Contemporânea de Edson Valente


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Refluxos, embora seja um livro curto, não é de fácil leitura, exatamente por buscar insistentemente provocar o leitor, por levá-lo a refletir sobre cada situação e daí tirar o sumo de cada conto. Quando se descobre a esfinge, quando se desvenda cada metáfora chega-se ao mundo degradado e até desumano denunciado nos textos. É uma espécie de soco lírico. Sofre-se o impacto, mesmo que o leitor o traga edulcorado por uma linguagem macia e até poética.
Neste ponto Edson Valente demonstra sua condição de escritor contemporâneo, escritor perfeitamente assentado nos padrões da nova literatura. Sua prosa é urbana, violenta e reflete os sentimentos do homem que entra um novo século desconhecendo plenamente as perspectivas do futuro. Esta incerteza, a ignorância sobre o bicho que o espreita na esquina, faz do personagem um homem inseguro, desconfiado e que reage aos seus medos com outra violência, como se tal atitude fosse capaz de reprimir os monstros que o rodeiam. Tudo dentro dos padrões atuais, em suma.
A novidade, a inovação está no mecanismo do uso da palavra. O livro se forma com metáforas. É texto para se ler nas entrelinhas, desafiando o entendimento, discutindo com o autor em cada novo parágrafo. Todo este exercício é excitante, sobretudo quando se tem, no geral, uma literatura amorfa, pouco criativa. Numa retórica de paralelos, a maioria dos novos escritores conversa com os naturalistas enquanto Edson Valente dialoga com um Campos de Carvalho sem o surrealismo, mais retratista.
Refluxo surge, assim, como um livro que consegue inovar, mesmo mantendo-se no cerne do debate literário atual.
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