ESCRITORES

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A Razão Gulosa - Literatura e Filosofia juntam-se à Gastronomia















Existe em Ribeira do Pombal, cidade situada na região nordeste da Bahia, um restaurante cujo nome "A Razão da Gula" foi inspirado no livro "A Razão Gulosa - Filosofia do Gosto" do filósofo francês Michel Onfray.
O município de Ribeira do Pombal tem o seu nome em homenagem ao primeiro-ministro do reino de Portugal, Sebastião José de Carvalho e Melo, déspota esclarecido, popularmente conhecido como Marquês de Pombal.
A seguir, resenha do livro escrita na primeira contracapa do cardápio do referido restaurante:
Michel Onfray está acostumado às críticas dos puristas. Afinal, ele luta para que a filosofia passe a encarar o corpo por inteiro. Ao falar de gastronomia, um de seus assuntos preferidos e tema de "A Razão Gulosa: Filosofia do Gosto", ele faz uso de todos os sentidos, incluindo, obviamente, o paladar e o olfato, discriminados por muitos dos colegas, que preferem enfatizar a visão e a audição, ao discorrerem sobre pintura e música, assuntos considerados mais dignos.
Onfray, hedonista até os últimos limites, pregando, acima de tudo, o prazer imediato, sentiu o doce sabor da revanche em 1993. Neste ano, ele recebeu o Prêmio Médicis de Ensaio, ao derrotar o favorito, o ilustre filósofo Gilles Deleuze, com seu livro "A Escultura de Si".
Rebelde, o autor joga mais lenha na fogueira, com a publicação do premiado "A Razão Gulosa": ele confere uma dignidade filosófica à gastronomia, arte efêmera e, portanto, representante hedonista. Ele quebra tabus, ao lançar a ciência da gula e invocar todos os sentidos, na relação com o vinho e a comida.
Através de uma agradável visita às mesas de várias épocas, o autor derrama sobre nós camadas de conhecimento, sob uma nova ótica. Presta um tributo a Dom Pérignon pela invenção do champanhe, fascina-se com a mágica preparação das aguardentes e celebra os banquetes do pai da crítica gastronômica, Grimod de La Reynière.
Um hedonista vulgar? Ledo engano. Onfray reverencia o ser, em contrapartida ao ter, ao consumo desenfreado. Seu hedonismo filosófico busca os atos conscientes. Ele, por exemplo, distingue embriaguez de ebriedade, este, um estado em que experimentamos a leveza, quando "o homem ainda se situa como sujeito da ação". O enófilo aponta a bebida como uma das chaves para a felicidade. Ao ingeri-la, Dionísio - o deus da festa - supera, momentaneamente, o racional Apolo. Afinal, "o vinho faz do corpo algo mais que um simples envelope do espírito: ele entusiasma, leva ao êxtase".
Além das viagens às adegas, Onfray passeia pelos rituais chineses do chá, pela Nova Cozinha e pela culinária futurista de Marinetti. E, por fim, celebra o hommo bulla, já que "a existência não durará mais do que as bolhas", diz, aproximando-se de Nietzsche. Sigamos, portanto, a sugestão do autor: "carpe diem", aproveite o dia. E, é claro, sua aula de refinada gastronomia.

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