“ (…) A esperança...
Dança na corda bamba
De sombrinha
E em cada passo
Dessa linha
Pode se machucar...
Azar!
A esperança equilibrista
Sabe que o show
De todo artista
Tem que continuar..."
(Aldir Blanc, em “O bêbado e a equilibrista”)
O cotidiano rasga a poesia de Aldir Blanc como uma tesoura mordendo o pano. É o seu corte, o seu feitio, a sua alfaiataria precisa, alta-costura literária cobrindo a vida em diagonal, como uma toalha de mesa de bar. Aldir está na fila do açougue, de bermudas no jogo do Vasco, o radinho colado na história de abandono do telefonema nas ondas curtas da madrugada.
Psiquiatra suburbano, letrista afiado, nascido e criado no Estácio, Rio de Janeiro, em sua galeria desfilam casais decadentes, amantes aturdidos de amor e amargura, escravos malandros ou enlouquecidos. Para não falar, é claro, das personagens dramaticamente extraídas de um boletim de ocorrência ou de um laudo médico terrível, diagnosticando irremediável solidão.
Mas há na sua obra, para além dos aspectos políticos ou socioculturais, um domínio excepcional da complexa curva dramática que delineia uma canção popular, a exatidão matemática, cromática, o tempo explodido na língua que nasceu com o sambista e cresceu filosofando com o garçom e a fumaça do cigarro.
Por Marcílio Godoi, em [Realidade bêbada, poesia equilibrista] Revista Língua Portuguesa, edição - 116.
Para saber mais sobre a história da música "O bêbado e a equilibrista", acesse:
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