ESCRITORES

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Por cima do mar - Livro envolvente, relevante e de performance literária de alta qualidade


Com a publicação de “Por Cima do Mar”, a escritora brasileira Deborah Dornellas foi contemplada com o Prêmio Casa de las Américas 2019 como melhor romance brasileiro do ano.
Deborah Dornellas, escritora, jornalista e artista plástica, é uma carioca criada em Brasília que mora em São Paulo. Em 2001, concluiu o mestrado em História Cultural (UnB), com um trabalho sobre maracatu nação pernambucano, o que a levou para dentro do universo da cultura popular brasileira de matriz africana, de onde nunca mais saiu. Em 2012, publicou Triz, uma reunião de poemas. Integra o Coletivo Literário Martelinho de Ouro desde 2013 e participou de todas as publicações do grupo. Cruzou o Atlântico pela primeira vez em 2016, para ver Angola de perto e alimentar-se de histórias. 
O prêmio cubano é um dos maiores reconhecimentos literários e tem como objetivo contemplar as melhores publicações da América Latina. Com isso, o livro será publicado em espanhol com uma tiragem inicial de dez mil exemplares.
Composto por Isis Barra Costa, Luisa Geisler e José Luiz Passos, o grupo de jurados considerou que a obra “conta uma história envolvente e relevante para o contexto contemporâneo brasileiro e latino-americano, que aborda questões como o racismo, o sexismo e a desigualdade, com originalidade e profundidade através da vida de sua protagonista e das mulheres negras que a antecederam”.
A avaliação também considerou que “o livro é estruturalmente ousado, tanto por sua extensão quanto pelo longo período de tempo que abrange, sua originalidade também se expressa em propor diálogos entre o Brasil e Angola, entre candangos e escravos. As pequenas mudanças de linguagem da protagonista, que refletem seus movimentos geográficos através do Atlântico, revelam o cuidado adequado da narrativa histórica e uma performance literária de alta qualidade".
A narrativa de “Por Cima do Mar” conta a história de Lígia Vitalina. Negra e criada na periferia do Distrito Federal em uma família de poucos recursos, mãe empregada doméstica e pai candango operário, Lígia se torna professora da Universidade de Brasília. Um dia, a protagonista se apaixona por um angolano e decide se mudar para Benguela, em Angola. Na cidade, a personagem começa a escrever sobre a sua vida e constrói pontes entre passado, presente, infância, maturidade, África e Brasil.

Processo de criação:
De acordo com Deborah, a obra, que levou cinco anos para ser escrita, vem de um conto. “O romance foi nascendo aos poucos, em cenas esparsas, muito fragmentado. O que me deu trabalho não foi propriamente a escrita, mas a costura das cenas, a unidade de tom e ritmo. Fiz muita pesquisa para a narrativa, principalmente sobre episódios históricos de Brasília e Angola. A primeira versão ficou pronta apenas em 2017 e eu ainda passei um período criando e produzindo as ilustrações. Por cima do mar é meu primeiro romance e o primeiro livro que ilustro. E foi Lígia Vitalina quem me levou pela mão. Sem essa personagem, esse livro não existiria. O livro é dela”, explica.
E complementa falando sobre a importância do reconhecimento: “prêmios em geral são um reconhecimento ao trabalho que a gente fez e isso é muito bom, pois nos incentiva a continuar escrevendo. Um prêmio como o Casa de las Américas é ainda mais significativo por sua tradição e por ser outorgado por uma instituição cubana que trabalha a sério pela cultura e pela repercussão da literatura brasileira no exterior”.




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