O idiota é um desses livros em que o leitor reconhece de imediato a marca do gênio. Nele, Dostoiévski constrói um dos personagens mais impressionantes de toda a literatura mundial — o humanista e epilético príncipe Míchkin, mescla de Cristo e Dom Quixote, cuja compaixão sem limites vai se chocar com o desregramento mundano de Rogójin e a beleza enlouquecedora de Nastácia Filíppovna. Entre os três se agita uma galeria de personagens de extrema complexidade, impulsionados pelos sentimentos mais contraditórios — do amor desinteressado à canalhice despudorada —, conferindo a cada cena uma intensidade alucinante que nunca se dissipa nem perde o foco. A tradução de Paulo Bezerra, a primeira realizada diretamente do russo em nosso país, traz para o leitor brasileiro toda a força da narrativa original.
"O Idiota é um desses livros que, começada a leitura, não nos larga nem depois que terminamos a última página. Por bastante tempo, tanto suas personagens quanto as cenas e algumas de suas discussões políticas, teológicas e sociais andam conosco, mesmo que já tenhamos começado outro livro. Para se libertar um pouco (completamente não vai dar...), só mesmo um volume à altura. Do mesmo jeito, a tentação de relê-lo sempre permanece, já que O idiota é um desses livros que nos deixa a impressão de que, depois da décima leitura, ainda não estará esgotado.
Não digo, porém, que a obra-prima de Dostoiévski tenha, por exemplo, a capacidade de nos afastar do mundo. Os melhores livros causam justamente o efeito contrário. Parece que tudo fica mais vivo. Sempre que fechamos um livro como esse, sentimos que talvez o mundo tenha alguma esperança."
[Ricardo Lísias, na Revista EntreLivrosClássicos, Edição 7]
Sobre o tradutor:
Paulo Bezerra estudou língua e literatura russa na Universidade Lomonóssov, em Moscou, e foi professor de teoria da literatura na UERJ e de língua e literatura russa na USP. Livre-docente em Letras, leciona atualmente na Universidade Federal Fluminense. Já verteu diretamente do russo mais de quarenta obras nos campos da filosofia, psicologia, teoria literária e ficção, destacando-se suas premiadas traduções de Crime e castigo, O idiota e Os demônios, de Dostoiévski.
O idiota, Tradução de Paulo Bezerra, Ilustrações de Oswaldo Goeldi, Coleção Leste, [Editora 34]. Prêmio APCA 2002 de Melhor Tradução.
"A intensidade da ação dramática, alucinante até, fez com que O Idiota fosse transposto para o cinema em três adaptações distintas dos diretores: Ivan Pyriev (1958), Akira Kurosawa (1951) e num admirável filme de Georges Lampin (1946), com Gérard Philipe e Edwige Feuillère nos papéis principais. Esses diretores souberam recriar com maestria, em preto-e-branco, o mundo atormentado de Dostoiévski, em meio a enevoada São Petersburgo, evitando reproduzir em pormenor o final alucinado do romance, onde o príncipe Míchkin acarícia o assassino de sua amada. Tem-se aí, certamente, um paroxismo difícil de aceitar, uma situação-limite extrema.
Dostoiévski escreveu em seus apontamentos sobre O idiota que os leitores souberam aceitar aquele final, o que não acontecia com a crítica.
Mas, decorridos tantos anos, e depois que se gastou tanta tinta com o romance, aquele desfecho continua desconcertante e abissal, um verdadeiro desafio à nossa capacidade de aceitar as ações de uma personagem literária.
Felizmente, temos agora em português, em nossa primeira tradução direta, todo o torvelinho de emoções que Dostoiévski nos dá neste livro surpreendente."
[Boris Schnaiderman, na apresentação à edição brasileira]
Trechos extraídos da série de TV russa O Idiota, baseada no romance homônimo de Dostoiévski.
4 comentários:
Nunca li nada de Dostoiévski, mas sei que Clarice Lispector (que eu leio compulsivamente) era sua admiradora e adepta a corrente existencialista.
"O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir, tocar no mundo...O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo parece nunca ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski..." (Das Vantagens de ser Bobo - Clarice Lispector)
"O Idiota" deve ser desses livros de se ganhar a vida.
Um beijo!
Oi Lívia, é sempre bom ter você por aqui. Depois de ler Dostoiévski, ninguém conseguirá ser mais o mesmo, o cara é realmente grandioso. Ao lermos suas obras percebemos que havia uma incompletude em nossa vida literária.
Um abraço afetuoso.
Olá Luiz,
Li "O subsolo" de Dostoiévski um romance considerado por Sartre o precursor do pensamento existencialista. Uma viagem ao subconsciente e seus mistérios escondidos, eu amei !
Com certeza "O idiota" também me causará impressões.
obrigada pela dica.
beijo e boa semana pra vc !
Olá pessoal,
Pretendo começar a ler este "o Idiota" em breve e gostaria da opinião de vcs quanto a melhor tradução deste livro.
Aguardo retorno.
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