Cronista de sua cidade e do seu tempo, a cada fato marcante que acontecia, Riachão nos dava a notícia em forma de um novo samba. Assim foi com “O umbigão da Baleia”, “A morte do Alfaiate” “Pitada de Tabaco”e tantos mais.
Foi também o seu talento poético que pintou com tintas musicais e precisão o cenário mítico desta cidade: “Quem chega na Praça Cairu/Olha pra cima o que é que vê?/O Elevador Lacerda sempre a subir e a descer…/ É o retrato fiel da Bahia/baiana vendendo com alegria/coisinhas gostosas de dendê – acarajé!”
Quando Caetano e Gil voltaram do exílio imposto pela ditadura militar e decidiram fazer o primeiro show para um público brasileiro cheio de saudade, decidiram lançar um manifesto daquela nova fase de suas carreiras e vidas. Foram buscar em Riachão as palavras precisas para expressar o que eles queriam comunicar em alto e bom som: “Cada macaco no seu galho/xô, xuá/eu não me canso de falar, xô, xuá/meu galho é na Bahia, xô, xuá/ o seu é em outro lugar…”
Até o pop contemporâneo veio beber nas águas desse Riachão. O último grande sucesso de Cássia Eller é crônica de um Riachão em estado puro:” Ai, meu Deus/ai meu Deus o que é que há?/A nega lá em casa não quer trabalhar…/ Ela quer me ver bem mal/ vá morar com o diabo que é imortal…”
Imortal é você, Clementino. Malandro dos bons, capoeirista dos sons e das letras, expressão da Bahia na cor, na alegria e no canto.Valente, que atravessou todos aqueles que queriam atravessar o seu caminho, e chega aos 90 anos de absoluto sucesso, sem nunca ter deixado de ser o menino Clementino.
Hoje, 2 de Dezembro, dia do Samba, mais do que nunca e mais do que todos, parabéns, Malandro!
Por Jorge Portugal em belíssimo artigo sobre esse genial sambista:
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