O prefácio de Antonio Candido presente no início da 4ª edição revisada de Malagueta, Perus e Bacanaço, aborda a inovação estética da obra:
(...) João Antônio faz para as esferas malditas da sociedade urbana o que Guimarães Rosa fez para o mundo do sertão, isto é, elabora uma linguagem que parece brotar espontaneamente do meio em que é usada, mas na verdade se torna língua geral dos homens, por ser fruto de uma estilização eficiente.
Jane Christina Pereira ressalta a grande carga poética da obra de
João Antônio, que desenvolve sua narrativa recorrendo à oralidade e fazendo uso do
lirismo, de modo a deslocar a luta social para o interior do texto e diluir “a supremacia
do real” por meio da poesia:
(...) cada narrativa joãoantoniana é um universo de lirismo, na
mesma medida em que o é, de alma brasileira. Por isso,
afirmar que João Antônio é simplesmente o autor dos
personagens da Boca do Lixo, de sinuqueiros e marginais,
seria o mesmo que afirmar que Guimarães Rosa é o autor dos
jagunços. São evidências, generalidades excessivas. Seus
personagens eflorescem de uma rústica paisagem urbana com
todos os sonhos, angústias e anseios daqueles que são menos
favorecidos, vítimas da falta de soluções para os problemas do
país, e que, por isso mesmo, levantam, divulgam, explodem
todo o encanto lírico da alma nacional.
Leia o texto integralmente, acessando:
Amplamente premiado, o primeiro livro de João Antônio, Malagueta, Perus e Bacanaço, fala dos desvalidos da sociedade paulistana com humor e profundidade psicológica.
[...]
Malagueta, Perus e Bacanaço, novela que dá nome ao livro, é o ponto alto da obra, trazendo elementos já apresentados nos outros contos, porém desenvolvidos e aprofundados. Vemos: o antimilitarismo surgir através do personagem Perus, desertor do exército; a sinuca como ambiente de liberdade; a melancolia da vida suburbana; a riqueza psicológica de tipos humanos normalmente tidos como simplórios…
O texto é bastante fragmentado, dividido em vários segmentos que correspondem aos ambientes percorridos pelos três protagonistas, malandros jogadores de sinuca, a peregrinar pela cidade de São Paulo em busca de dinheiro. Em companhia deles, atravessamos Lapa, Água Branca, Barra Funda, Pinheiros, e viajamos por uma linguagem transgressora, abundante em gírias e ditos populares que abandonam a habitual condição de clichê, tornando-se hiperexpressivos ao serem inseridos numa prosa inovadora, livre de qualquer convencionalismo.
A principal viagem que João Antônio nos proporciona é sair das mesmices duma intelectualidade vazia e mergulhar em novas formas de expressão, através de uma escrita livre e ousada onde não há terrenos proibidos, ou considerados indignos do campo literário.
Leia o texto integralmente, acessando:
Transposição da obra para o cinema:
"O Jogo da Vida" é um filme brasileiro de 1977 dirigido por Maurice Capovilla, baseado no livro Malagueta, Perus e Bacanaço, de João Antônio.
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