ESCRITORES

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Em novo romance, Marcia Tiburi reflete sobre grandes questões de nosso tempo: gênero, raça, classe social, a questão do fazer, do trabalho, da classe cultural, da religião, etc.

Marcia Tiburi - Uma fuga perfeita é sem volta
A filósofa e escritora Marcia Tiburi lança ‘Uma fuga perfeita é sem volta’, livro que conta uma história de abandono, opressão e preconceito.
Uma fuga perfeita é sem volta é seu quinto romance — e, talvez, aquele que mais se aproxime das “questões pesadas de nosso tempo: a comunicação na era da incomunicabilidade, as relações de amizade na era da falsidade e do interesse, o corpo na era da sexualidade, a fé na era da mercadoria”.
Em entrevista à editora Record Marcia Tiburi faz uma síntese da obra e do protagonista Klaus Wolf Sebastião:
Klaus Wolf Sebastião, protagonista e narrador, muitas vezes descreve a si mesmo como alguém “estranho”. Como você apresentaria, em poucas palavras, esse personagem? 

Ele é gago. A gagueira é uma marca corporal que interfere em toda a sua vida, em todas as suas relações. Ele tem outras marcas corporais que ficam ocultas e que são relativas à sua condição sexual. Ao mesmo tempo, ele é um funcionário, um homem simples e bastante ressentido com a vida que viveu, mas é alguém sensível, que desenha, que lê, que estuda. Ele vive em silêncio, conseguindo conversar basicamente com dois amigos por quem tem um imenso apreço. Klaus é alguém solitário, perdido, um legítimo representante do abandono típico de nossa era tecnológica, espetacular e digital. Fui sendo surpreendida por ele, inclusive por seu nome, meio alemão, meio brasileiro. Por isso é que falo de um inconsciente literário. Eu quis usar um nome bem brasileiro e o nome de São Sebastião apareceu por acaso. Quando percebi que o nome da santa que o acompanha é Irene, então, fiquei mais impressionada ainda, porque não tinha consciência disso. Mas quem escreve sabe que é assim, tudo o que estava esquecido ou negligenciado vem à tona.

E a metamorfose que ele vive durante o romance? Você chamaria assim mesmo – “metamorfose”? Como a descreveria?

Ele vive um devir. Sua história é marcada pelo desejo de devolver a si mesmo uma biografia. Klaus é alguém que, de certo modo, não existiu. Ele é daquelas pessoas que não contam. O que ele quer é existir, mas não para os outros e sim para si mesmo. Eu diria que ele quer estar em si numa época em que todos reivindicam o direito à singularidade, mas poucos fazem o esforço da interioridade. Tenho certeza que essa não é uma questão para muita gente. Ao mesmo tempo, tenho certeza que o livro conversa com as grandes questões de nossa época: gênero, raça, classe social, a questão do fazer, do trabalho, da classe cultural, da religião, a globalização, o turismo. Klaus nos confronta com o problema do pertencimento. De onde sou? Para onde vou? O que posso ser? O livro cria tensões em relação ao nosso tempo, de um modo delicado, ou seja, de um modo que vem de dentro.

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