Natalia Borges Polesso é escritora e doutoranda em Teoria da Literatura na PUCRS, é autora de Recortes para álbum de fotografia sem gente, obra vencedora do prêmio Açorianos 2013 na categoria contos, do livro de poemas Coração à corda, de 2015, e também da tirinha A escritora incompreendida, publicada apenas na internet e de Amora, livro de contos que versam sobre relações homossexuais entre mulheres, vencedor do prêmio Jabuti 2016 na categoria Contos e Crônicas.
É diminuto dizer que a escrita de Natalia versa unicamente sobre relações homossexuais entre mulheres. Na lírica de "Coração à corda" e nos contos de "Recortes para álbum de fotografia sem gente" e "Amora" estão presentes a sensação de deslumbramento, o espanto diante de sentimentos inesperados e o medo das descobertas. Seus escritos ressaltam o encontro consigo mesmo, sobretudo quando ele ocorre fora dos padrões, trazendo enormes desafios ou tornando impossível seguir sem transformação. É necessário avançar, explorar o desconhecido, desestabilizar as estruturas para chegar, enfim, ao sossego de quem vive e tem a consciência libertária de amar livremente.
Por Natalia Polesso [Eu escritora, eu lésbica]:
"Bem, é no pouco tempo que me sobra entre essas atividades que eu penso na minha insignificante condição de escritora: escrevi três livros, três livros que tratam, direta ou indiretamente, de relações lésbicas. Sim. Simplesmente porque minha experiência de (r)existir é uma experiência de mulher e de mulher lésbica, e eu escolhi que escreveria sobre isso, porque eu, dentro de uma reflexão diária, entendi, primeiramente, a importância dessa experiência, e depois, a importância de sua visibilidade, reconhecimento e, sobretudo, respeito. Nos enredos do meu trabalho, esta se constitui uma escolha política e estética. Política por ser modo de ocupar, estética por ser modo de pensar e realizar a minha escrita."
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A seguir, fragmento do conto "Minha prima está na cidade":
“Acontece que eu e a Bruna somos uma família, mas eu demorei para entender que éramos. Foi um dia em que eu fiquei bem doente e cogitei a possibilidade de passar a noite na casa dos meus pais e a Bruna ficou puta comigo, com razão. Aquela era a nossa casa e eu podia me sentir bem e protegida ali, foi assim que eu comecei a entender. Comecei a entender com cheiros de sopa e pão, banhos quentes e carinhos e escolhas bobas como a cor dos móveis ou a necessidade de uma cortina, assim comecei a entender o que era uma família, com louças acumuladas e montes de cabelos que se perdiam pelo chão, cabelos pretos e compridos, porque eu e a Bruna temos cabelos pretos e compridos. Minha família estava ali, com louça, gripes, montes de cabelos, cheiros de comida caseira, café na cama e banhos quentes, com brigas e pedidos de desculpas, carinhos, amores, cuidados e era mesmo uma família, até quando ficávamos vendo televisão no domingo de tarde ou quando levávamos nosso cachorro imaginário para passear no parque.”
Para ler uma mostra da obra, acesse:
[www.amazon.com.br/Amora-Natalia-Borges-Polesso-ebook]Para saber mais sobre a autora, acesse:
[literaturalesbofeminista.blogspot.com/search/label/NataliaBorgesPolesso]
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