ESCRITORES

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O caráter estético singular e universal das narrativas de Valêncio Xavier

[...] Valêncio Xavier, em O mez da grippe e outros livros, rompe com as bases estético-literárias tradicionais ao compor nos seus textos um horizonte distinto de tendências narrativas na ficção contemporânea brasileira.
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As narrativas de Xavier inserem-se no período histórico-estético contemporâneo da literatura brasileira por suas qualidades estéticas. Trata-se de textos que encontram correspondência com as novas formas de narrar que vêm sendo experimentadas e cultivadas nos tempos hodiernos, assim como textos que procuram transgredir os novos desdobramentos culturais, e sempre em busca da criatividade artística. Quanto ao campo formal, Xavier, por meio da pluralidade de linguagens e de técnicas narrativas, busca formas de exceder a perspectiva clássica da página do livro, de modo a configurar uma poética que trabalha não apenas com a mensagem, mas com o próprio canal, por exemplo. Quanto ao aspecto temático, trata-se de uma literatura que torna tudo, desde o mais prosaico, digno de ser narrado, e sempre com um tratamento mediante o qual se podem depreender temas universais dos textos, isso porque as suas histórias revelam dramas humanos, “epidemias” universais e atemporais. Ao ler o livro, tem-se a sensação de estar assistindo pacientemente, à semelhança dos habitantes da Curitiba de 1918 diante da gripe espanhola, a uma “epidemia” de desvalorização e de banalização das relações humanas no contexto urbano. Valêncio Xavier, escritor cuja visibilidade na cena literária brasileira evidencia a existência e a soberania de diversas instâncias e de mecanismos mercadológicos e legislativos no processo de projeção do artista como sendo de valor e de importância, constrói uma escrita literária singular e ousada, o que pode gerar uma reação de desconforto e mesmo de frustração àqueles leitores acomodados com narrativas mais tradicionais, resolvidas pela relação de causa e efeito. Isso porque a sua literatura, ao expor a grotesca e misteriosa realidade do cotidiano em um instantâneo da vida, por meio da combinação de elementos ficcionais e não-ficcionais, em uma linguagem labiríntica e intersemiótica, sempre reserva um espaço à dúvida, configurando, assim, o aspecto emancipatório de suas narrativas e eternizando o movimento em busca de significações suscitadas por elas.

Lourenço Mutarelli fala neste episódio do "Livro de Cabeceira" a respeito da influência que o livro "O mez da grippe", de Valêncio Xavier, tem sobre sua própria obra.

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