ESCRITORES

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Avalovara - Medonho, impressionante, hermético e poético

Com uma obra hermética e surpreendente, Osman Lins e grande parte de seu legado ainda são pouco conhecidos, apesar do grande sucesso de sua peça Lisbela e o Prisioneiro.
Avalovara -  Romance publicado por Osman Lins em 1973, cuja estrutura, sobre a base de uma espiral e de um quadrado mágico, busca agregar caos e ordem. O crítico Antonio Candido explica esse jogo: "Como num relato de Borges, o modelo deste livro seria um poema, místico em latim, de que se conserva apenas a versão grega da hipotética Biblioteca Marciana de Veneza… O poema fornece o esqueleto de uma geometria rigorosa e oculta, que o Autor revela numa espécie de guia metalinguístico do leitor, e que dá a narrativa um movimento espiralado, sem começo nem fim quando tomado em si mesmo. O limite está no fato de a espiral ser contida num quadrado, que por sua vez se reparte em quadrados menores, cada um correspondendo a uma letra. O traçado da espiral vai tocando sucessivamente as letras, e cada uma destas corresponde a uma linha da narrativa, voltando periodicamente em segmentos cada vez maiores. As linhas são oito, e o seu desdobramento se traduz na história de um homem e das mulheres que amou: uma na Europa, uma em Recife e sobretudo, uma em São Paulo, que de certo modo recebe a experiência amorosa vivida como nas anteriores. As duas primeiras seriam passado, mas funcionando como presente; a última é um presente que se forma a cada instante do passado. Toda a narrativa converge para a plenitude amorosa, numa espécie de gigantesca câmara lenta, que concentrasse o tempo no espaço limitado e no limitado instante em que a plenitude é buscada."

Avalovara - Uma obra-prima de arquitetura literária é um livro para quem curte a linguagem literária em si, para quem aprecia o jogo poético de palavras, cenas, emoções, conceitos, a montagem e a quebra contínua da ilusão de realidade gerada pela literatura.
E para quem quer ver um escritor absolutamente LOUCO em termos de estrutura, o romance segue quase que um esquema matemático fractal no entrelaçamento de oito narrativas dentro de uma espiral inscrita no Quadrado Sator (não esquente, se você ler Avalovara, vai saber o que é esse tal Quadrado Sator!).
E realmente é um troço de doido, pós-modernérrimo, hermético, misterioso, cheio de configurações medonhas e entrelaçamentos narrativos!
A experiência de leitura é totalmente alucinógena e poética, a narrativa passa por momentos de caos e ordem, por passagens narrativas cinematográficas, cenas de sonhos, cenas eróticas psicodélicas, e muita poesia, com frases maravilhosas, tristes, melancólicas, visionárias. É uma espécie de uma obra brasileira do mesmo escopo da Odisséia de James Joyce, Avalovara é uma experiência literária poderosa, recomendada para leitores que realmente curtam literatura poética e com muito estilo e autores.
“Avalovara” é uma narrativa experimental unificada pelo amor e o desejo entre os protagonistas, que se processa em cenas eróticas e de exploração da sensualidade, misturando pontos de vista e mergulhando em uma experiência interna da mistura de almas que acontece em uma relação profunda.
E o que impressiona é a coexistência do caos e da ordem na narrativa, da fantasia e do realismo, do imprevisto e do calculado, desde a concepção da obra como na execução.
Recomendadíssimo, uma joia da nossa literatura, única na literatura mundial, acredito!
Para leitura completa do texto, acesse:

O romance propõe um complexo jogo de leitura, cujo percurso é dado, nas páginas iniciais, por uma espiral e um quadrado. Dentro do quadrado se organiza um palíndromo - Sator arepo tenet opera rotas: a cada uma de suas letras corresponde uma linha narrativa. Uma das traduções para a frase em latim é oferecida pelo narrador: "O Lavrador sustém cuidadosamente o mundo em sua órbita". Essa formulação reforça a deliberada tentativa de chamar a atenção para o artifício da obra literária: o narrador pertence a um mundo ficcional criado pelo autor - em Avalovara, contudo, também o narrador constrói esse mundo.

Diário poético de duas escritoras que percorrem lugares da cidade de São Paulo por onde passou e viveu o escritor pernambucano Osman Lins. Neste diário, evocam trechos de dois de seus romances principais, AVALOVARA (1973) e A RAINHA DOS CÁRCERES DA GRÉCIA (1976) onde esses lugares foram incorporados.

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