Aos 60 anos, Glauco Mattoso continua explosivo e inovador. Depois de ficar completamente cego, vítima de um glaucoma que inspirou seu pseudônimo literário, Glauco adotou a forma fixa do soneto como forma de memorizar versos nada comportados.
Com linguagem ao mesmo tempo elaborada e divertida, Glauco Mattoso cria 25 histórias breves inspiradas em seus próprios sonetos. Todos os textos giram em torno dos temas que fizeram dele um dos mais celebrados poetas brasileiros da segunda metade do século XX: podolatria, cegueira, sado-masoquismo, escatofilia, homossexualidade e as hipócritas relações da sociedade com as “perversões sexuais” no dia a dia. Na imensa maioria das histórias, o autor é nomeado como personagem, estratégia narrativa que dá margem a leituras biográficas e coloca em xeque a construção da persona literária, remetendo a grandes nomes da tradição ocidental, de Hesíodo a Jorge Luis Borges. Assim, entre as narrativas reunidas neste livro, a que dá título a ele “Tripé do tripúdio”, por exemplo, descreve, em primeira pessoa, a situação em que o escritor é assediado por uma mulata em plena noite de autógrafos de um de seus livros. O namorado da mulher, ao ver a cena, diz para o narrador que ela sempre faz assim para enciumá-lo, ao que o personagem responde, para tranquilizá-lo, revelando-se gay. Incrédulo, o namorado insiste com o narrador, desconfiado de que este quer apenas disfarçar o flerte com sua namorada. O narrador e namorado, porém, insiste até que o conto termina com uma cena de felação entre os dois.
Em capa dura, em edição monumental como merece, Tripé do tripúdio é aparatado com detalhada cronologia e vasta bibliografia de e sobre o autor, posfácio de Antonio Vicente Pietroforte (escritor e professor de linguística na USP) e orelha de Italo Moriconi.
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